Carta-apoio Ana Clara de Paula Moreira

Esta pauta, dentro do campo científico, passa por constantes crises de comunicação, sendo continuamente negligenciada em termos de discussão aberta e fundamentada em princípios científicos – tanto biológicos, quanto sociológicos e históricos. Mais uma vez, vimos este debate acontecer durante a semana de 17 a 21 de junho de 2024, quando um perfil bastante conhecido entre o público de divulgação científica de astronomia e astronáutica, com um número considerável de seguidores, fez uma postagem na plataforma X (antigo Twitter) que vai totalmente contra a luta antirracista que fazemos e que precisamos continuar fazendo. Desta forma, afirmamos que a luta antirracista deveria ocupar uma das centralidades na produção de uma divulgação científica compromissada com a democratização do conhecimento científico e guiada pelos princípios de igualdade de direitos e justiça social.

A partir desta tentativa de conversa da Ana com esse perfil, justamente para explicar os problemas nessa postagem, iniciou-se uma onda de ataques na rede social X, que posteriormente se espalhou para outras redes sociais, plataformas de vídeos e podcasts. Estes ataques não podem ser menosprezados ou esquecidos, de maneira alguma. É de extrema importância que todos nós, divulgadores científicos e todos os que apoiam e reconhecem o valor da ciência, demonstremos nosso repúdio a estes ataques.

Gostaríamos de lembrar que a ciência é uma construção histórica e social e, portanto, guiada pelas ações e vieses da sociedade em que é desenvolvida. Infelizmente, o racismo e a misoginia fizeram parte da história da ciência e, se quisermos uma ciência excelente, ética e justa, precisamos erradicar qualquer tipo de discriminação. Embora haja mecanismos e esforços para o seu combate, atos discriminatórios ainda se fazem presentes. A veiculação desse tipo de ataques a pessoas que atuam na pesquisa e na divulgação científica possibilita que o racismo e a misoginia continuem no meio científico, legitimando desigualdades sociais. Isto é inadmissível e uma postura anticientífica.

 Os recentes ataques indicam que nosso caminho no combate ao racismo e à misoginia é longo, mesmo entre aqueles que afirmam defender a ciência. Sabemos que usualmente, tanto o debate sobre o racismo estrutural, quanto as pesquisas sobre as redes sociais, têm destacado que esses problemas se reproduzem a partir da estrutura de nossa sociedade, o que demanda de nós agir coletivamente sobre essa estrutura.

Neste sentido, a comunidade de divulgação científica que aqui está e assina este documento reitera seu compromisso de atuar, sempre e toda a vez, contra o racismo e a misoginia – não apenas com cientistas e divulgadoras como Ana Clara, mas estendendo nosso compromisso a quaisquer pessoas de nossa sociedade.

Assinam este documento:

(atualizado em 27/06/24, 19:55)

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