Mário Schenberg
Hoje, ao completarem-se 35 anos desde o falecimento de Mário Schenberg (ocorrido em 10 de novembro de 1990) — data que nos convida a refletir sobre seu legado — é justo celebrar sua trajetória multifacetada e inspiradora.
Um cientista à altura dos tempos
Nascido no Recife em 2 de julho de 1914, Schenberg formou-se em engenharia elétrica (1935) e em matemática no ano seguinte. Desde muito cedo, demonstrou uma aptidão rara para a matemática e a geometria, que se refletiria em seus trabalhos em física teórica.
Trabalhou com nomes internacionais de peso — como George Gamow e Subrahmanyan Chandrasekhar — e participou de pesquisas que abriram caminhos em astrofísica e mecânica quântica. Dois exemplos marcantes:
- O chamado processo Urca, idealizado com Gamow, que explicava como uma estrela poderia perder energia rapidamente por emissão de neutrinos antes de sofrer colapso ou explosão.
- O limite de Schenberg-Chandrasekhar, que trata da massa máxima que o núcleo de uma estrela pode ter antes de perder estabilidade.
Esses feitos fazem de Schenberg uma figura central no desenvolvimento da física teórica no Brasil, e justificam o título que alguns lhe concedem: “o maior físico teórico do Brasil”.
Para além da ciência: arte, educação e política
Mas sua atuação não ficou restrita aos laboratórios. Schenberg foi, também:
- Político comprometido: eleito deputado estadual por São Paulo em duas ocasiões, participou de lutas pela institucionalização da pesquisa científica no Brasil.
- Crítico de arte e homem de cultura: manteve uma intensa atividade de interlocução com o mundo das artes plásticas, escrevendo sobre artistas contemporâneos e exercendo o papel de mediador entre ciência e cultura.
- Educador e construtor de instituições: como diretor do Departamento de Física da Universidade de São Paulo, entre 1953-61, ajudou a fundar laboratórios, trouxe o primeiro computador para a universidade e contribuiu para a formação de gerações de cientistas.
Desafios e resistência
Sua vida também foi marcada por lutas. Durante a ditadura militar brasileira, sofreu perseguição, foi aposentado compulsoriamente e impedido de atuar como professor por certo período. Essa resistência demonstra que a ciência, a liberdade intelectual e o compromisso social caminharam juntos em sua trajetória.
O legado que perdura
Hoje, ao olhar para trás, somos convidados a reconhecer que o legado de Mário Schenberg vai muito além de equações ou publicações. Ele nos lembra que:
- A investigação científica é parte de um projeto maior de sociedade: de formação, criatividade, cultura e democracia.
- A liberdade de pensar, de questionar e de conectar diferentes áreas do conhecimento — ciência, arte, política — é essencial para o avanço humano.
- Mesmo em momentos adversos, a coragem de manter a integridade intelectual faz diferença.
Uma homenagem viva
Este 10 de novembro, ao celebrarmos os 35 anos de sua partida, talvez possamos fazer de Schenberg um exemplo para nossos tempos: de valorização da ciência para a sociedade, de interdisciplinaridade, de diálogo entre saberes, de cidadania ativa.
Que sua figura nos inspire a construir uma educação e uma ciência mais humanas, que dialoguem com a arte, com o mundo e com os desafios de nosso país.
“É necessário criar um certo clima intelectual no país: a realização de pesquisas científicas certamente vai mudar a maneira de pensar das pessoas.” — Mário Schenberg
Com admiração e gratidão, lembramos Mário Schenberg — não apenas o cientista, mas o homem completo.



